O jornal, o livro, a xícara de café, e de quebra, o controle remoto da televisão – quero tudo ao alcance da mão.
Quero explorar a abundância da vida do meu sofá.
Será que tem alguma coisa errada?
Acho que sim – a vida exige mais movimento.
Tenho que me levantar e me expor à abundância da vida.
Tenho que encontrar pessoas, ouvir histórias, pegar gripe.
Caminhar um bocado, tropeçar de vez em quando e tirar lições das mínimas situações do cotidiano.
Duas atividades que podem nos afastar da degeneração mental são movimentos e relacionamentos.
A neurociência descobriu que os movimentos físicos, os exercícios, demandam muito do nosso cérebro, e contribuem para que os caminhos neurais estejam lubrificados.
Uma hipótese muito interessante do desenvolvimento da espécie humana está relacionada com os relacionamentos sociais. O homem desenvolveu o seu cérebro, ativado pela complexidade das relações, o que demanda uma enormidade do processamento deste computador poderoso que carregamos.
Eu imaginava que os exercícios do cérebro, palavra-cruzada, sudoku e outros tantos poderiam me manter imune aos ataques da demência, mas hoje sei que é melhor caminhar, conversar com as pessoas no supermercado e manter uma rede vasta de relacionamentos.
Afastar a preguiça física e mental é uma tarefa diária, em todas as nossas atividades.
Vejo que a idade nos empurra cada vez mais para o sofá, e temos que lutar para afastar esse ímpeto natural.
Mesmo quando usufruímos do conforto e da paz do lar, vejo hoje a importância de estar mexendo em alguma coisa, mesmo que seja consertando as tampas das panelas.
Sair de casa e procurar as pessoas no contato pessoal, interagir e aprender mais e mais é uma preocupação que tenho.
Por outro lado, vejo que fico cada vez mais chato, e luto para não me tornar um velho que todos querem evitar.
Beco